sexta-feira, 10 de abril de 2020

REFLEXÃO DE ANTE-PÁSCOA (Publicada em 2018)

[estou postando novamente, desta vez aqui, para que mais pessoas possam se beneficiar]


Caminhando pelas ruas da cidade, vi e ouvi muita coisa que me surpreendeu: festas, folias,
comemorações antecipadas de Páscoa... comida e bebida em abundância, exageros em todos
os aspectos... e barulho... muito barulho! Histeria generalizada neste feriado que é o mais
santo de todos.
A sensação que me vem de imediato é a de indignação. Como podem estar alegres e
‘festejantes’ diante do maior sofrimento do Salvador do mundo? Como podem estar comendo
e bebendo diante do corpo imolado e do sangue jorrado do Filho de Deus? Como podem se
confraternizar por vãs razões na época onde se relembra o momento que o Cristo se sentiu
abandonado pelo Pai?
Confesso que cheguei a ficar revoltado com tamanhas profanações dos principais símbolos
do cristianismo, onde, em vez de respeitarem o momento espiritual, banalizam fazendo deste
só mais um momento livre de trabalho e obrigações sociais.
Feriado não é sinônimo de festa. Celebrar não é igual a comemorar. Respeitar é necessário,
mesmo quando não se crê. Respeitar é necessário mesmo quando não se compreende o
porquê.
Todavia, num dado momento me peguei em igual profanação, mesmo que em circunstâncias
e razões bastante distintas. Passei a me importar mais com o barulho da sociedade do que
com o silêncio interior. Passei a dedicar mais tempo no incômodo alheio do que com a
meditação pessoal. Enfim, passei a me ater mais com o problema do que com a solução.
Num mundo que grita por existir e briga pra encontrar uma razão existencial, o silêncio deste
sábado vem para acalmar àqueles que este puderem ouvir. Entre tantas pessoas que sequer
percebem a deturpação contextual ao qual vivem, uma mensagem tácita nos vem abraçar.
Entre tantos atos de desespero e frenesi sem propósito, um passado ainda presente no vem
ensinar.
Ora, se o Filho do Homem tivesse pensado igual a mim, a julgar as ações alheias, o mundo
jamais teria sido salvo e eu aqui não estaria seja para errar, seja para crescer. Assim sendo,
devo imediatamente voltar minhas energias ao silêncio que sobrevoa toda esta atmosfera
carnal e me desafia a elevar a mente para escutá-lo. Uma mensagem que não pode ser ouvida
com os ouvidos, mas com o coração... no fundo da alma... através da mente inconsciente....
Uma mensagem não dita, mas vivida; demonstrada; exemplificada; proposta; consumada.
Em sua época, havia tamanha balburdia em torno de si, jorrando insultos e injúrias à pessoa
mais santa jamais vivida. Em meio a uma corrente de ódio gratuito e justiça estúpida, fazendo
equivocadamente o que diziam ser o mais certo. Neste momento, imagino o silêncio que
pairava na mente daquele santo homem, que não lhe permitia sair de seu estado de espírito
iluminado; que não lhe impedia de ouvir os mais necessitados; que não lhe calava a voz
quando falar fosse necessário.
Sorte minha encontrar-me em similar balburdio e estar envolto num mar de dor camuflada e
incompreensão mútua. Infinitamente mais branda que a situação original; proporcional à
minha cruz! Amanhã vou festejar e comemorar a ressurreição do Príncipe da Paz e celebrar
sua Páscoa. Mas hoje vou usufruir deste privilégio de mais uma vez provar minha cristandade
perfurando a camada ululante, me recostando no silêncio sagrado; da meditação
transcendental; na introspecção divina. Hallellujah, INRI!
Everton Marinho Pinto
Professor, artista, escritor e terapeuta
Recife, 31 de março de 2018

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